quarta-feira, 18 de maio de 2011

Correndo pela grama verde


              
               Vou correndo pela grama verde, apenas em minha cabeça. E na minha cabeça alguém estará me esperando quando eu chegar. Chegar onde não importa, pois estarei com alguém que nunca me abandonará, que segurará em minhas mãos com força o bastante para quebrar meus dedos. Não! Isso é exagero. Mas estarei correndo pela grama verde e o verei no fim da colina, ou em cima da colina, ou na beira do lago, ou talvez em cima de uma árvore. Quando me ver lançará um olhar misterioso. Não! Quando me ver sorrirá. Será tão bonito e tão odioso. Ficarei cheio de rancor e o céu ficará escuro. É que percebi a falsidade da fantasia. As coisas vão desmontando pelas beiradas. O horizonte pega fogo. Não! O horizonte derrete. Meu mundo é de gelo. Fogo é o que vem de fora. A grama estará molhada e não terei tempo de correr. Gelo por todos os lugares. Muita água e o fogo chegando, chegando. As teclas de todos os pianos estarão quebradas. O fogo de fora toma conta do gelo de dentro. Me afogo na água que era gelo e me queimo no fogo, tudo ao mesmo tempo. Tudo dentro da minha mente. Vem tão forte que sinto dor de cabeça. Preciso de um comprimido. Remédio para dormir.  Vou dormir e sonho que vou correndo pela grama verde e alguém estará me esperando quando eu chegar. Chegar onde não importa, pois estarei com alguém que nunca me abandonará, que segurará em minhas mãos com força o bastante para quebrar meus dedos. Não! Isso é exagero. Mas estarei correndo pela grama verde e o verei no fim da colina, ou em cima da colina, ou na beira do lago, ou talvez em cima de uma árvore. Quando me ver lançará um olhar misterioso. Não! Quando me ver sorrirá. Será tão bonito e tão odioso. Ficarei cheio de rancor e o céu ficará escuro. É que percebi a falsidade do sonho. As coisas vão desmontando pelas beiradas. O horizonte pega fogo. Não! O horizonte derrete. Meu mundo é de gelo. Fogo é o que vem de fora. A grama estará molhada e não terei tempo de correr. Gelo por todos os lugares. Muita água e o fogo chegando, chegando. As teclas de todos os pianos estarão quebradas. O fogo de fora toma conta do gelo de dentro. Me afogo na água que era gelo e me queimo no fogo, tudo ao mesmo tempo. Tudo dentro do sonho. Vem tão forte que acordo. Acordo pensando que estou correndo pela grama verde...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cena 2

Correu para não perder o ônibus, mas o veículo já virava na esquina. A pasta que carregava se abriu e vários papéis voaram. Se jogou ao chão e recolheu os poucos que ficaram. Droga, eram importantes. Olhou no relógio, estava muito atrasado. Saiu em busca de um táxi, não achou. Sentou-se suado no meio fio. Foi quando veio a chuva. Deixou a pasta na calçada e pulou da ponte mais próxima. Não sabia nadar.

Cena 1


Ele esta perdido na estrada. Olha de um lado a outro, não sabe aonde ir. Não sabe onde ir, mas sabe que não pode ficar. Usa uma camiseta da banda Red Hot Chili Peppers. Os caminhões passam tão perto que pode sentir o jato de vento morno como um furacão de fogo. Nenhum deles para. Ele vai andando a pé mesmo. Lá na frente, quem sabe, consegue uma carona.

domingo, 8 de maio de 2011

Atrás da porta


               Ninguém sabe o que se passa atrás dessa porta. Ninguém sabe o que se passa atrás dessa porta que você bate, bate, bate, mas que não abro. Vem todo molhado pela rua, trazendo uma garrafa de conhaque. Mas quando chega, finjo que não chegou. Finjo que você não existe e que essas batidas desesperadas estão dentro da minha mente. É que eu não quero reviver tudo de novo. Penso com mais força que não quero e não vou reviver tudo de novo. Sento no sofá com o coração acelerado, sentindo pena de você com frio, na chuva, no vento. Penso se não é melhor abrir a porta. Poderíamos conversar e você me diria o quanto gosta de mim e que não entende o fato de alguém como eu estar com alguém como você. Sorriria para mim com medo de sorrir, então eu fingiria que você é mesmo um bobo e que aquilo não tem importância alguma. Que pode contar comigo sempre. Mas estou cansado de mentir.  E você bate mais. E enquanto bate vou pedindo com força para mim mesmo que você vá embora e não volte. Não tenho coragem de responder e mandá-lo para o inferno. Gritar em sua cara que é mesmo incrível que alguém como eu esteja com alguém como você. Mas o mais incrível é que alguém como eu tenha pena de alguém como você. 
               Tapo os ouvidos com as mãos, tentando acreditar que não existe ninguém do outro lado da porta. Alguém que esta de alguma forma ligado à minha vida. Alguém que caminhou comigo pelas madrugadas da alma, que dividiu pizzas e refrigerantes em horas impróprias. Alguém tremendo de frio e se perguntando o porquê de eu não abrir logo a maldita porta. Um nó vai crescendo em minha garganta. É que eu vou morrer amor. Tento me levantar e correr para qualquer direção. Tento me lembrar como é que se faz pra realizar qualquer ação. Acabo me lembrando que não tenho mais chão. Caio! Que vontade de abrir a porta e te abraçar, depois dizer que você não pode ficar, mas que não me esquecerei de nada. Você não me deixaria, eu sei. Eu sei disso e sofreria. Amor fique com as lembranças da gente no parque, no lago, na casa de campo. Amor fique com tudo isso, mas vá deixando aos poucos. Não de uma vez, mas aos poucos. Deixe aos poucos, deixe para quando a vida me deixar. Me levanto e corro até a porta porque parece que você esta morrendo do outro lado também. Seguro na maçaneta. Não posso. Vou abaixando até o chão, minhas costas deslizando pela porta enquanto você bate e grita meu nome.
               Quero que pense que a culpa é sua, que não te amo mais, que não é bom o suficiente para estar aqui, do meu lado. E que voltei para qualquer lugar de onde um dia sai. E isso vai doendo tanto, enquanto penso, porque é tudo uma grande mentira. Se eu tivesse coragem de abrir a porta me atiraria em teus braços. Sentindo meu corpo trêmulo amparado por tua força diria: Na cabeça amor, na cabeça. Seus olhos bobos em mim sem entender. É que não te contei, mas agora te conto. Na cabeça. Três meses talvez. Guarde algo meu, uma caneta, uma gravata. As batidas vão entrando em mim como facas, os gritos me castigam. Estou aqui, tento gritar, mas choro. Choro baixinho. Quero que siga teu caminho. Não quero que me veja como estou agora. Não quero que sinta a sensação de ter sido enganado, como sinto. É que não vencemos. Nós não vencemos e agora é meu fim. Fico pensando em você me esquecendo aos poucos e de nós abraçados na cama. De quando eu parava em frente ao espelho arrumando o cabelo e você me abraçava por trás. Que casal bonito, dizia, nascemos um para o outro.
               E me lembro de você chegando ao hospital. Ô meu amor, dizia, você sairá daqui logo e poderemos ficar juntinhos de novo. E me lembro de você perto quando eu chorava, de como enxugava minhas lágrimas, depois me abraçava e eu podia sentir todo o quente do teu corpo no frio do meu corpo insosso e pálido. Beijando meus lábios, falando em como meu rosto te lembrava um anjo. Eu destruído. Homem não-homem, sem cabelo, mas com amor. Daqui posso ver as malas no canto da sala e o bilhete na mesinha. “Não te amo mais. Estou indo embora. Me esqueça”.  A superfície da porta esta fria.  Você do outro lado ainda bate. Preciso ser tão frio quanto a porta. Tudo vai ficando escuro e não penso mais em nada. Você para de bater, paro de respirar. Começo a perder a vida agora. Parece um fio. Alguém cortou este fio com um bisturi. Por um segundo tento me levantar. Quero abrir a porta e gritar com todas as forças que volte, que não desista, que estou aqui e te amo tanto, tanto, tanto. E gritar que estou com tanto medo de passar por isso sozinho, que gostaria de sentir teu corpo quente quando o meu estivesse mais frio. Não me levanto, não abro a porta. Parece que te vejo partindo no asfalto molhado. A chuva que cai sobre você cai em mim também. O câncer esta na cabeça, amor.
               

domingo, 1 de maio de 2011

Era uma vez, Jefferson


Fui entrevistado pela Pamela Dal’ Alva, do Blog Era Uma Vez, Pamela. Gostei muito, foi divertido e pude passar algumas mensagens. Espero que gostem. Leia a entrevista clicando AQUI!