domingo, 8 de maio de 2011

Atrás da porta


               Ninguém sabe o que se passa atrás dessa porta. Ninguém sabe o que se passa atrás dessa porta que você bate, bate, bate, mas que não abro. Vem todo molhado pela rua, trazendo uma garrafa de conhaque. Mas quando chega, finjo que não chegou. Finjo que você não existe e que essas batidas desesperadas estão dentro da minha mente. É que eu não quero reviver tudo de novo. Penso com mais força que não quero e não vou reviver tudo de novo. Sento no sofá com o coração acelerado, sentindo pena de você com frio, na chuva, no vento. Penso se não é melhor abrir a porta. Poderíamos conversar e você me diria o quanto gosta de mim e que não entende o fato de alguém como eu estar com alguém como você. Sorriria para mim com medo de sorrir, então eu fingiria que você é mesmo um bobo e que aquilo não tem importância alguma. Que pode contar comigo sempre. Mas estou cansado de mentir.  E você bate mais. E enquanto bate vou pedindo com força para mim mesmo que você vá embora e não volte. Não tenho coragem de responder e mandá-lo para o inferno. Gritar em sua cara que é mesmo incrível que alguém como eu esteja com alguém como você. Mas o mais incrível é que alguém como eu tenha pena de alguém como você. 
               Tapo os ouvidos com as mãos, tentando acreditar que não existe ninguém do outro lado da porta. Alguém que esta de alguma forma ligado à minha vida. Alguém que caminhou comigo pelas madrugadas da alma, que dividiu pizzas e refrigerantes em horas impróprias. Alguém tremendo de frio e se perguntando o porquê de eu não abrir logo a maldita porta. Um nó vai crescendo em minha garganta. É que eu vou morrer amor. Tento me levantar e correr para qualquer direção. Tento me lembrar como é que se faz pra realizar qualquer ação. Acabo me lembrando que não tenho mais chão. Caio! Que vontade de abrir a porta e te abraçar, depois dizer que você não pode ficar, mas que não me esquecerei de nada. Você não me deixaria, eu sei. Eu sei disso e sofreria. Amor fique com as lembranças da gente no parque, no lago, na casa de campo. Amor fique com tudo isso, mas vá deixando aos poucos. Não de uma vez, mas aos poucos. Deixe aos poucos, deixe para quando a vida me deixar. Me levanto e corro até a porta porque parece que você esta morrendo do outro lado também. Seguro na maçaneta. Não posso. Vou abaixando até o chão, minhas costas deslizando pela porta enquanto você bate e grita meu nome.
               Quero que pense que a culpa é sua, que não te amo mais, que não é bom o suficiente para estar aqui, do meu lado. E que voltei para qualquer lugar de onde um dia sai. E isso vai doendo tanto, enquanto penso, porque é tudo uma grande mentira. Se eu tivesse coragem de abrir a porta me atiraria em teus braços. Sentindo meu corpo trêmulo amparado por tua força diria: Na cabeça amor, na cabeça. Seus olhos bobos em mim sem entender. É que não te contei, mas agora te conto. Na cabeça. Três meses talvez. Guarde algo meu, uma caneta, uma gravata. As batidas vão entrando em mim como facas, os gritos me castigam. Estou aqui, tento gritar, mas choro. Choro baixinho. Quero que siga teu caminho. Não quero que me veja como estou agora. Não quero que sinta a sensação de ter sido enganado, como sinto. É que não vencemos. Nós não vencemos e agora é meu fim. Fico pensando em você me esquecendo aos poucos e de nós abraçados na cama. De quando eu parava em frente ao espelho arrumando o cabelo e você me abraçava por trás. Que casal bonito, dizia, nascemos um para o outro.
               E me lembro de você chegando ao hospital. Ô meu amor, dizia, você sairá daqui logo e poderemos ficar juntinhos de novo. E me lembro de você perto quando eu chorava, de como enxugava minhas lágrimas, depois me abraçava e eu podia sentir todo o quente do teu corpo no frio do meu corpo insosso e pálido. Beijando meus lábios, falando em como meu rosto te lembrava um anjo. Eu destruído. Homem não-homem, sem cabelo, mas com amor. Daqui posso ver as malas no canto da sala e o bilhete na mesinha. “Não te amo mais. Estou indo embora. Me esqueça”.  A superfície da porta esta fria.  Você do outro lado ainda bate. Preciso ser tão frio quanto a porta. Tudo vai ficando escuro e não penso mais em nada. Você para de bater, paro de respirar. Começo a perder a vida agora. Parece um fio. Alguém cortou este fio com um bisturi. Por um segundo tento me levantar. Quero abrir a porta e gritar com todas as forças que volte, que não desista, que estou aqui e te amo tanto, tanto, tanto. E gritar que estou com tanto medo de passar por isso sozinho, que gostaria de sentir teu corpo quente quando o meu estivesse mais frio. Não me levanto, não abro a porta. Parece que te vejo partindo no asfalto molhado. A chuva que cai sobre você cai em mim também. O câncer esta na cabeça, amor.
               

9 comentários:

Zoeiras.com disse...

POCHA...BEM REFLETIDOR ESSE TEXTO!
QUE ÓTIMO BLOG HEIN!

ME VISITA TBM!KKKKKKK
NUM VOU FAZER PROPAGANDA NAUM

Zoeiras.com disse...

copiando meus mil comentarios né?
tá bom eu sei que vc num vai aceitar esse coment mermo aushauhsauh
(LÍ SUA MENTE)

Jefferson Reis disse...

Aceitei. Só pra pirraçar, rawerr

Laryssa Franklin disse...

Intenso e... Lindo.

http://desordemedesinteresse.blogspot.com/

NeO R. disse...

Eu gostei. Falou do meu câncer. Daquqle, daquele lá, da minha cabeça.

O meu não me mata, como o teu. Minah doença n me dá gosto de morangos mofados na boca mas...

...ela me da vazio de espirito em minha alma. E alguem bate do lado de fora de mim mesmo. E essa pessoa que bate sou eu mesmo. E eu não abro, e não deixo, nunca, ela entrar. Eu tenho medo!

Abraço!

bia santos disse...

É muito triste quando alguém resolve ir embora e nos deixar...

Já chorei muito, mas consegui sobreviver...

Engraçado que depois disso, é muito difícil acreditar em alguém novamente...

Pam Dal Alva disse...

nossa amor..
que tenso essa postagem. nem sei o que dizer.

Letícia Mota disse...

Muito obrigada por seu comentário em meu blog!!

Vim retribuir a visita e tb para te seguir...

Gostei dos texos; muito bons...Gostei muito do estilo como tu escreves...

Sucesso...
http://modaeexcelencia.blogspot.com/

Marcelo Soares disse...

Acho que quando a pessoa vai embora, a gente aceita melhor, sofre, sofre, sofre, mas acabamos nos encontrando em outro amor, mas, quando é a gente que deixa ela ir embora, tudo aumenta, tudo é mais intenso, tudo fica mais exagerado. A gente é assim, sempre lidando com perdas, mesmo quando elas acontecem por nossa vontade.

Abraço, Jefferson.

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